História da Gradiente: inovação, altos e baixos e a briga pelo iPhone

Se você cresceu nos anos 80 ou 90, provavelmente teve (ou cobiçou) um aparelho de som da Gradiente. A marca brasileira que embalou festas com seus three-in-one, lançou clones de Nintendo e até registrou o nome iPhone antes da Apple passou por um enredo digno de série: expansão meteórica, decisões desastrosas, recuperação judicial e um ressurgimento focado em energia solar. Entenda como a Gradiente saiu do topo para quase desaparecer — e por que ainda dá tanto o que falar.

Foto em estilo retrô mostrando um microsystem 3-em-1 da Gradiente, o console Phantom System e um celular dos anos 90 sobre mesa de madeira, com painéis solares ao fundo simbolizando a evolução da marca.

1. Origens modestas (1964-1974)

A Gradiente nasceu como uma pequena oficina paulistana de componentes eletrônicos em 1964. O primeiro salto veio com um amplificador pioneiro em 1965, beneficiado pela Lei de Reserva de Mercado, que blindava a indústria nacional da concorrência estrangeira.

2. Milagre econômico e a era do áudio (1975-1988)

Com incentivos da Zona Franca de Manaus e o boom do consumo interno, a empresa popularizou o “three-in-one” — toca-fitas, toca-discos e rádio num único gabinete —, transformando-o no objeto de desejo de uma geração. Ainda nessa fase adquiriu a concorrente Polyvox, garantindo também o licenciamento oficial do Atari 2600.

3. Passo em falso na Europa

Empolgada, a Gradiente comprou a britânica Garrard (1978). A entrada num mercado internacional hipercompetitivo, porém, gerou prejuízo de US$ 18 milhões e a venda da subsidiária em 1997.

4. Diversificação: computadores, TVs e games

  • Exper MSX (1985): sucesso inicial, mas fracassou por usar periféricos proprietários quando o mundo migrava a padrões abertos.
  • Telefunken Brasil (1989): comprada para entrar em TVs; rendeu a primeira tela de 29″ fabricada aqui.
  • Phantom System (1989) e Playtronic (1993): clonou o NES e depois representou oficialmente a Nintendo, trazendo Super Nintendo e Nintendo 64.

5. Auge financeiro e parceria Nokia (1993-2000)

O joint venture Nokia Gradiente lançou o primeiro celular digital feito no país, levando o faturamento da empresa a R$ 1 bilhão em 2000.

6. Crise, recuperação judicial e… iPhone

A compra mal-sucedida da Philco (2005) e a concorrência de LG e Samsung precipitaram dívidas superiores a R$ 500 milhões. No mesmo período, a Gradiente havia registrado a marca G Gradiente iPhone (2008).
Em 16 de maio de 2025, o STJ restabeleceu o direito da Gradiente sobre a marca, jogando a disputa contra a Apple para o STF. macmagazine.com.br9to5mac.com

7. A aposta em energia solar

Fora da fabricação de eletrônicos, a companhia agora licencia a marca e investe em Gradiente Solar, lançada em 2024 com R$ 50 milhões para brigar por 10 % do mercado de geração distribuída. pv-magazine-brasil.com


Conclusão

Entre triunfos e tropeços, a história da Gradiente mostra como inovação sem planejamento pode custar caro — mas também como uma marca forte pode encontrar novos nichos, seja em royalties de eletrônicos nostálgicos ou em energia solar. O veredito do STF sobre a marca iPhone será decisivo para o próximo capítulo.