Crise da Oi: da liderança à recuperação judicial
A crise da Oi virou caso de estudo no Brasil: a operadora que já liderou o mercado de telecomunicações mergulhou em dívidas superiores a R$ 65 bi, enfrentou duas recuperações judiciais e vendeu ativos estratégicos para sobreviver. Neste artigo você conhecerá as causas do colapso, as consequências para consumidores e investidores e o cenário atual da companhia.

1. Raízes públicas e a privatização da Telebrás
Em 1998, a divisão da estatal Telebrás em 12 “teles” regionais abriu caminho para a criação da Telemar, embrião da Oi. Apoiada por capital de gigantes como Banco do Brasil e BNDES, a empresa saltou de orelhões icônicos para serviços móveis de terceira geração, tornando-se símbolo de inovação e alcance nacional.
2. Ascensão meteórica (2001-2008)
- Abertura de capital em 2001.
- Oi Móvel lança a primeira rede 3G do país em 2008.
- Marca única “Oi” substitui Telemar em 2007 para unificar produtos e evitar confusão de branding.
3. Aquisições caras e o início do rombo
A compra da Pegasus (R$ 335 mi) e, sobretudo, da Brasil Telecom (R$ 5,8 bi + dívida de R$ 3 bi) elevaram as dívidas da Oi além de sua capacidade de geração de caixa. O lucro operacional não acompanhou os custos de integração e a alavancagem disparou.
4. A fusão com a Portugal Telecom: esperança que virou pesadelo
O aporte de R$ 4,7 bi veio em forma de papéis ligados ao banco Rio Forte, que faliu meses depois, transformando o “investimento” em prejuízo. A crise da Oi já era assunto recorrente entre analistas, e multas da Anatel somaram mais pressão.
5. Primeira recuperação judicial (2016-2022)
Com dívida superior a R$ 65 bi, a companhia ingressou no maior processo de reestruturação empresarial da história do país. O plano previa 20 anos para pagamento, venda de torres, data centers e, por fim, o leilão da Oi Móvel. A TIM, Claro e Vivo arremataram o negócio por R$ 15,9 bi, valor que quitou parte dos débitos, mas não impediu novos prejuízos.
6. Segunda recuperação judicial (2023-presente)
A melhora temporária durou pouco: em março de 2023 a Oi voltou ao tribunal com dívida remanescente de R$ 29,7 bi. Desta vez o foco estratégico migrou para a expansão da Oi Fibra e do braço corporativo Oi Soluções.
Situação em 2025
Graças a cortes de custos drásticos e novas alienações, a operadora reduziu a dívida bruta para ≈ R$ 12 bi e continua negociando vendas adicionais de ativos, mas ainda registra prejuízo líquido (–R$ 2,9 bi no 4T24). O sucesso do segundo plano de recuperação depende de:
- Crescimento da rede de fibra óptica, segmento com maior margem.
- Consolidação do portfólio corporativo (cloud, data center, cibersegurança).
- Estabilidade cambial, pois parte das dívidas é indexada ao dólar.
7. O que a crise da Oi ensina?
- Superalavancagem reduz flexibilidade em mercados de capital intensivo.
- Governança falha e interferências políticas podem ser tão letais quanto competição.
- Diversificação sem sinergia real tende a destruir valor.
Conclusão
A crise da Oi ilustra como decisões estratégicas equivocadas, somadas a uma execução operacional frágil, podem derrubar até gigantes de setores essenciais. Embora a dívida tenha encolhido e o foco na Oi Fibra seja promissor, o futuro permanece incerto: a operadora precisa provar aos credores e ao mercado que consegue gerar caixa suficiente para honrar seus compromissos e manter serviços de qualidade aos clientes.