Falência da Mesbla: como um ícone do varejo desapareceu

Poucas marcas despertam tanta nostalgia nos brasileiros quanto a Mesbla. Durante décadas, suas lojas de departamentos simbolizaram variedade, elegância e inovação, chegando a empregar quase 30 mil pessoas. Mas a falência da Mesbla em 1999 surpreendeu o país e levantou uma pergunta que ecoa até hoje: como um gigante do varejo simplesmente some do mapa? Neste artigo, você vai entender os motivos do colapso, as tentativas de ressurgimento e o legado que ainda permanece na memória coletiva.

Fachada de uma antiga loja de departamentos fechada ao entardecer, com iluminação urbana suave.

A história da Mesbla: de oficina a colosso do varejo

Fundada em 1912, no Rio de Janeiro, como filial da francesa Mestre & Blatgé, a empresa começou vendendo peças automotivas. O nome Mesbla surgiu em 1939, estratégia para afastar a associação com a França em plena Segunda Guerra Mundial. A partir dos anos 50, a rede mergulhou de vez no varejo de departamentos, abrindo filiais que chegavam a 3 000 m² e oferecendo de utensílios domésticos a automóveis — tudo sob um mesmo teto.

Já nos anos 80, a expansão atingiu o auge: 180 lojas, 250 mil SKUs e quase 30 mil funcionários. A inclusão de vestuário impulsionou as vendas, mas também tornou a operação complexa e custosa, plantando as primeiras sementes do caos financeiro.


As raízes da crise

  1. Inflação e estoques encalhados – Ao antecipar compras antes do Plano Collor (1990), a Mesbla estourou seus depósitos. Com o confisco das poupanças, o consumidor sumiu das lojas; a mercadoria, não.
  2. Concorrência internacional – A abertura econômica trouxe nomes como Carrefour e produtos da Nike, que invadiram vitrines a preços agressivos.
  3. Burocracia interna – Mais de 40 diretores precisavam aprovar mudanças. No varejo, tempo é dinheiro — e o caixa da Mesbla sangrou.
  4. Estratégia de diversificação sem foco – De barcos a câmeras soviéticas defeituosas, a marca atirou para todos os lados e errou o alvo da rentabilidade.

O resultado? Dívidas que superaram R$ 1 bilhão.


O capítulo Mansur e o colapso final

Em 1996, o empresário Ricardo Mansur comprou 51 % da rede na esperança de integrar Mesbla e Mappin. Em vez disso, encontrou dívidas impagáveis, alugueis atrasados e fornecedores desconfiados. A rede entrou em concordata em 1996 e, após uma escalada de escândalos (incluindo a prisão de Mansur em 1999 por divulgar informações financeiras falsas), decretou falência. A última loja fechou em 24 de agosto de 1999, em Niterói (RJ).


Tentativas de retorno

AnoIniciativaResultado
2009Compra da marca para lançar loja virtualProjeto abandonado
2022Marketplace criado pelos irmãos VianaSite saiu do ar em 2023

Apesar do apelo nostálgico, a nova Mesbla online não conseguiu competir com Amazon, Mercado Livre e Magalu — players já consolidados no e-commerce brasileiro.


Legado e lições

A falência da Mesbla mostra como falta de adaptação, burocracia e decisões erradas podem derrubar até as marcas mais queridas. Ainda assim, a lembrança de folhear seus catálogos ou passear pelos corredores imensos segue viva no imaginário popular — e serve de alerta para o varejo que ignora mudanças de comportamento do consumidor.